terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A educação no Brasil aumenta a desigualdade

Gustavo Ioschpe

Economista afirma que o governo gasta mal o dinheiro do ensino e defende a cobrança de mensalidade nas universidades públicas














Aos 28 anos de idade, o gaúcho Gustavo Ioschpe nunca teve o que reclamar
 da educação que recebeu, mas sabe que, no Brasil, é uma exceção.
 De família rica, estudou nas melhores escolas do País e graduou-se no Exterior.
 Ao aprofundar seus estudos sobre educação, percebeu que havia uma lacuna na
relação entre desenvolvimento econômico e ensino. Ao final de dois anos de trabalho
intenso sobre o tema, nasceu o livro vencedor do Prêmio Jabuti 2005,
 A ignorância custa um mundo, publicado pela Editora Francis. É a visão de um
economista sobre o sistema educacional brasileiro.
Com a nova abordagem, espera arejar as discussões sobre políticas públicas de desenvolvimento. Munido de números e estatísticas, Ioschpe afirma que a educação
 brasileira é muito ruim e alerta que “estamos perdendo o bonde da história”.
Sem medo de mexer em temas espinhosos, critica os ganhos elevados dos professores universitários, defende a cobrança de mensalidade nas universidades públicas e
assegura que a elite intelectual universitária, que se diz de esquerda, defende um
sistema educacional que perpetua a desigualdade de renda no País.
 -
Qual a sua avaliação da educação brasileira?
GUSTAVO IOSCHPE -
Vivemos um momento em que o Brasil está perdendo o bonde da história. O mundo em geral, especialmente os países desenvolvidos, está
massificando o ensino universitário, e o Brasil continua tendo uma universidade
voltada para a elite. Os países desenvolvidos já estão há décadas com 100% de
matrícula no ensino primário e secundário. E só agora o Brasil conseguiu 100%
 no ensino fundamental, enquanto o ensino médio está em 40%. Abre-se um abismo não só entre o Brasil e os países desenvolvidos, mas também entre outros países subdesenvolvidos, como a China e o Chile, que estão avançando na área educacional
. Tem de haver um movimento muito acelerado de recuperação da educação no
Brasil. E isso só vai acontecer quando a sociedade brasileira entender a educação
 como uma variável estratégica para o desenvolvimento e exigir do poder público
 um ensino de resultado. Já os professores, diretores, as pessoas que pensam a educação, têm um componente ideológico muito forte.
-
De que maneira isso atrapalha o sistema educacional?
GUSTAVO IOSCHPE -
É um critério subjetivo. Não há como mensurar se uma escola é boa ou ruim, já que não se tem como medir se se está criando um cidadão consciente, participativo e politicamente engajado. E também porque isso impede o desenvolvimento de uma educação voltada para objetivos mensuráveis e técnicos
de qualidade. E quando se cobram resultados mensuráveis e qualitativos do ensino,
 como a melhora no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), incremento da taxa de alfabetização, melhora na taxa de repetência, o refrão é
sempre o mesmo: avaliar qualitativamente o ensino é reducionismo, é reduzir o
papel da educação a coisas técnicas.
Que outros fatores podem explicar esse baixo aproveitamento?
GUSTAVO IOSCHPE -
Além da ideologização dos professores, há a falta da qualidade do ensino. Para não ser injusto com os professores, temos uma série de deficiências inacreditáveis, como escolas sem diretor, sem lousa, sem biblioteca e até sem
carteiras. Outra questão é a perda de tempo com discussões pedagógicas.
 É Paulo Freire para cá, Piaget (Jean) e Vigotski (Liev) para lá, construtivismo, neoconstrutivismo, construtivismo social... O nosso problema não é pedagógico.
Essa discussão só faz sentido em países de Primeiro Mundo. Vamos focar esforços
 para ensinar nossas crianças a ler e escrever na primeira série. Quando tivermos
taxa de repetência de 2% ou 3%, aí sim migramos para questões mais sofisticadas.
O problema da educação brasileira é uma
questão de alocação de recursos, de implantar métodos certos para os lugares certos.
Em termos de porcentagem do PIB, o Brasil gasta em educação uma quantia similar à de países desenvolvidos. Por que não avançamos?
GUSTAVO IOSCHPE -
Na hora de distribuir os recursos, ocorre uma ineficiência brutal, principalmente devido aos altos custos do ensino universitário. Na média, os países
 em desenvolvimento gastam com um universitário quatro vezes mais do que com
um aluno do ensino médio. Nas nações desenvolvidas, essa proporção cai para 1,7
aluno. Já no Brasil, um universitário custa o mesmo que 15 alunos do ensino médio.
É desproporcional. O gasto com um universitário público brasileiro é
 proporcionalmente quatro vezes mais alto do que com um universitário das
 melhores escolas do mundo. Não é que falte dinheiro; ele é muito mal gasto.
Vai uma montanha de dinheiro indevida para subsidiar filhinho de papai na
 universidade pública. E tem muito desperdício, para não falar em corrupção.
Por que o sr. defende o fim da gratuidade do ensino universitário?
GUSTAVO IOSCHPE -
No perfil de renda dos alunos das universidades públicas,
 uma grande parte poderia pagar. O que prova isso é o hábito das famílias de classe média alta de dar um carro para o filho que ingressa na universidade pública.
Não tem confissão maior de que esse aluno não precisa receber o benefício.
 Como essa elite vai para cursos com boa aceitação no mercado, ela terá um
 grande aumento de renda privada como fruto dessa educação subsidiada. 
Para o sr., o fim da educação subsidiada também deveria ir além do 
ensino universitário?
GUSTAVO IOSCHPE -
Proponho também acabar com o desconto do Imposto de Renda
com gastos em educação. O que acontece de fato é o financiamento do ensino
privado com dinheiro público. Não tenho nada contra o Estado pagar a educação
de seu povo, pelo contrário, mas não vamos fazer dois sistemas educacionais,
um sem qualidade e outro com qualidade.
Mas isso não concretizaria a mercantilização do ensino?
GUSTAVO IOSCHPE -
Não. Mercantilização do ensino é um discurso pseudo-esquerdista.
Temos um ensino que atende uma pequena elite e confere a essa elite os
 mecanismos para que ela perpetue a sua dominação e a desigualdade de renda.
 Cobrar mensalidade não é privatizar a educação. De qualquer jeito, a sociedade
 já está pagando pelo ensino das pessoas. É melhor que quem possa pague, e não
 que a sociedade inteira arque com os custos. Não há universidade gratuita. 
Por que o assunto de cobrança de mensalidade nas universidades 
públicas sofre tanta resistência?
GUSTAVO IOSCHPE -
Porque as pessoas que recebem este benefício são as que têm
poder político, econômico e voz para reclamar. Na pesquisa para o livro, descobr
i um dado que me deixou estarrecido. O principal fator que explica a desigualdade
é justamente a educação. Ao invés de diminuir o fosso, a educação no Brasil
aumenta a desigualdade, respondendo sozinha por 50% da diferença de renda no
País. É chocante. Nos outros países, à medida que o sistema educacional é ampliado
, como na Coréia do Sul, a desigualdade diminui. Aqui foi o contrário. Nisso,
a questão universitária é um nó muito importante
A educação brasileira caminha para a privatização?






















GUSTAVO IOSCHPE -



O sistema universitário já foi privatizado, graças à própria inoperância e ao gasto absurdo das universidades públicas.
Enquanto houver essa estrutura de custos na universidade pública, ela vai continuar sendo uma universidade de elite.
-Então os intelectuais de esquerda defendem uma educação que privilegia a elite?
GUSTAVO IOSCHPE -

A universidade pública não é um bem público, pois privilegia uma elite e gera uma desigualdade de renda. Eu me considero uma
pessoa de esquerda, mas, quando falo em
cobrança de mensalidade e outras propostas,
dizem que é coisa da direita.

                                                                            Emily Curcino

Um comentário:

  1. Que formatação desorganizada é esta? Padronizem no blog as fontes, entrelinhas, etc.

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